(não se espantem nem me recomentem estabilizadores de humor. ambas as notas - a anterior e esta - buscaram cuidadosamente a exatidão do desejo e da constatação.)
findo o ano, feito o balanço, surpeendeu-me uma triste certeza: perdi a confiança no ser humano. não num ser específico, nem no humano genérico. perdi, dolorosamente, a confiança nas pessoas. ou em quase todas - devo ser justa e reconhecer que a aspereza que me levou o encanto trouxe-me também belas surpresas. o cômputo geral, porém, não é de fazer sorrir. principalmente a mim, que nasci ignorante das trevas e vivi otimista por tantas décadas.
cara no muro, mas convencida de que da vida o melhor é ela mesma, só me resta recomeçar. devagar como quem aprende um ofício novo, com o cuidado das mãos grossas que experimentam a ourivesaria. aproveitar a troca de agendas e apagar aniversários e demais vestígios. usar o espaço vazio para anotar outros tantos nomes, emails, telefones. treinar a esperança com persistência de aprender a assobiar. suportar as feiúras humanas, fora e dentro de mim. praticar o silêncio e a discreta retirada. não deixar de perder toda oportunidade de expressar meu desagrado. guardar para mim as mazelas que não interessam a mais ninguém. manifestar-me com a parcimônia de quem tuíta contando caracteres.
e torcer pela transmutação. pelo momento em que o desencanto se transforme em cinza que o vento converta em fumaça que seja interpretada como sinal bom: habemus fiduciam.
Posso estar maluca, Nana, mas eu acho mesmo é que as trevas são o começo do caminho para conhecer - e aceitar - o Humano. Imperfeito como ele é. Como nós somos.
ResponderExcluirFeliz 2011 pra você!
adorei o treinar a esperanca. as vezes penso cah com meu ziper, isso de ir amadurecendo (eufemismo pra ficando velho) eh tao cliche... todo mundo diz q a gente vai se desesperancando, vai se retirando, vai desgostando do ser humano, e eh tao verdade... atentai bem, nana ervilha, atentai! aproveite bem as ferias para escrever bastante, assim bonito, e ir-se renovando. bjkonas.
ResponderExcluirPessoas, leiam Kardec, não é a salvação da esperança, mas um início para a compreensão de nossos males malfeitos, as vezes é um refrigério para as nossas imcompreensões, as vezes a luz no fim do túnel.
ResponderExcluirEduardo Pereira
Fiquei pensando se pra ganhar necessariamente temos que perder... acho que sim né? Acaba faltando espaço. Belo texto nana!
ResponderExcluirRetrospectiva e premonição. O que você escreveu, Nana, é o roteiro desarranjado do filme da vida. As constatações e a eterna esperança que alimenta todos os nossos recomeços. Nada substitui o viver; nada ensina mais que o sorrir e o chorar... que o esperar. Não se desaponte com o ser humano. Todos, no fundo, somos iguais; todas as nossas alegrias e tristezas são iguais; todos os nossos desejos e expectativas são iguais; todas as nossas esperanças e esperas são iguais. Só o que sai da alma em forma de poesia é diferente, mesmo descrevendo sentimentos e momentos aparentemente iguais.
ResponderExcluirBeijo do Zé